Devido os cenários de pandemia no ano de 2020 se estenderem para o ano 2022, podemos prever que nos produtos derivados do petróleo: plásticos, químicos, e têxteis, ocorrerá elevação de preços em relação a matéria-prima.
A “esteira da maior crise sanitária da nossa época”, como foi chamado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), criou um desconformo financeiro em todo mercado nacional, devido a economia do Brasil ficar estagnada, tendo como estimativa do Branco Central de que no ano de 2021 o PIB (Produto Interno Bruto), tenha encolhido cerca de 4,3% comparado ao ano de 2020.
O que a pandemia causou nas indústrias?
Segundo economistas da época, um fator importante explica o que causou a falta de insumos nos últimos dois anos, que se deva por um desarranjo das cadeias produtivas, ocorrido no começo da pandemia.
Entre os meses de março a junho de 2020, obtivemos a primeira queda relacionada a demanda e consumo em grandes indústrias. O distanciamento social e a falta de perspectivas em relação ao consumo, causou que muitas das indústrias de diversos segmentos fechasse suas portas ou optasse por sistema de trabalho rotativo, férias coletivas para setores da produção e home office para os setores administrativos. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o primeiro semestre, a produção industrial do Brasil, acumulou queda de 27%.
Sem uma produção efetiva e a uma tardia iniciativa do governo para liberar linhas de crédito para o setor produtivo, fornecedores e fabricantes de matéria prima, precisaram gerar um caixa especial para cumprir com seus compromissos financeiros, gerando também o consumo total de seus estoques.
Com relação às matérias-primas, no primeiro semestre de 2021, a alta do polipropileno foi muito significativa para a indústria, pois as importações se exaltaram tanto no custo, quanto no frete para abastecimento da cadeia produtiva. Além disso, diversas empresas importantes dos EUA e México, paralisaram suas operações e alertaram sobre a pouca disponibilidade de grandes volumes.
Com o controle da pandemia em alguns países e principalmente na China, a procura externa por commodities brasileiras estourou. Isso gerou um forte aumento nas exportações, favorecido ainda pelo real desvalorizado em relação ao dólar, que acabou tornando se mais viável para as empresas vender para o mercado externo. Em contrapartida, com o dólar em alta, houve a inibição das importações.
Todo este cenário causou um aumento consideravelmente absurdo em relação ao mercado interno em produtos como soja, algodão, milho, aço, alumínio, proteína animal, arroz, papel e celulose.
Como a alta do petróleo pode afetar o mercado?
É fácil concluir que o aumento do custo do petróleo pode atingir significativamente a indústria, devido ter a maior alta dos últimos sete anos. Entende-se que alta de 46% no preço do petróleo nos últimos dose meses, não afeta apenas os preços dos combustíveis e todos seus derivados.
Os derivados do petróleo são usados como matéria prima para diversos produtos, sejam eles: plásticos, têxteis e químicos, por exemplo.
“A indústria de plástico, por exemplo, viu o preço de insumos como polipropileno (usado para fabricar de sacos para grãos e fertilizantes a cadeiras plásticas, brinquedos e eletrodomésticos) e polietileno (usado em embalagens de biscoitos, massas e sacos plásticos) subir mais de 100%, em média”, segundo José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Abiplast, associação do setor.
Podemos comparar que no ano de 2021, as matérias primas, subiram no embalo da alta do petróleo de dólar supervalorizado. Para este ano de 2022, a inflação está alta, a demanda baixa e o dólar com sinais de queda. Nesta terça-feira (16), o dólar fechou à R$ 5,12, maior valor nas últimas semanas.
Irlan Arbetman (Analista de Petróleo e Gás da Ativa Investimentos), pontou que grandes e pequenas indústrias terão dificuldade e absorver o impacto desse aumento, tendo que repassar ao menos parte aos seus clientes, porque além de aumento de custos nos insumos, há pressão no transporte, logística e energia elétrica (termelétricas que usam diesel como combustível).
Houve um reajuste de 32% no Poliéster (matéria prima derivada do petróleo) entre os meses de janeiro de 2020 a janeiro deste ano, segundo Fernando Pimentel (Presidente da Associação Brasileira da Industrial Têxtil e de Confecção – Abit).
“Há relação direta de reajuste de preços de matérias-primas com a alta do petróleo. E há o caso do elastano da China, que teve reajuste de 115% no mesmo período com o crescimento da demanda por esse produto e dólar mais caro” – segundo Fernando Pimentel.
Já em setores que são consumidores de produtos químicos (exemplo: embalagens, montadoras e construção civil), a alta de custos em 2021, chegou à 62,25%
O que se esperar entre o conflito Rússia e Ucrânia?
O conflito que está ocorrendo entre Rússia e Ucrânia, pode causar um desconforto econômico a mais de 10 mil quilômetros de distância. No Brasil o efeito será sentido diretamente em pelo menos três áreas: câmbio, combustíveis e alimentos. Pode se presumir que a falta de estabilidade no Leste Europeu, gera um impacto na inflação e isto faz com que tenha aumentos consideráveis nos juros, acarretando comprometimento no crescimento econômico em 2022.
Vamos direcionar cada área, começando pelos combustíveis. O primeiro ponto seria o preço internacional do petróleo, em fevereiro deste ano o barril do tipo Brent chegou o custo de US$ 105, recorde de nível desde 2014. Outra via, seria o gás natural que teve o BTU (unidade de medida de energia) à US$ 30, lembrando que atualmente a Rússia é a maior produtora em nível global.
Outro grande impacto que já vem sendo percebido, é a instabilidade que o Poliamida vem sofrendo durante esse período de guerra não declarada. Somente na Europa temos uma concentração de 40% dos sites de produção do mundo dessa matéria-prima, além de um lockdown na China.
Já na área de câmbio, o dólar chegou a atingir na última terça-feira (16) o valor R$ 5,12, ou seja, neste momento os efeitos no câmbio não são preocupantes, uma vez que o Brasil se beneficie de uma queda de quase 10% no ano de 2022. Entretanto, se o conflito persistir, pode se anular a baixa no dólar. A taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia) subiu para 11,75%, isso prejudica o crescimento econômico neste momento:
Para a área de alimentos, a Rússia é a maior produtora de trigo no mundo e justamente a Ucrânia ocupa a quarta posição, isso faz com o que o Brasil não possa contar com países, porque a Argentina (maior exportadora do grão do Brasil), está passando por uma seca, prejudicando a safra local. A Rússia também é a maior produtora de fertilizantes do mundo, e o Brasil compra 20% dos fertilizantes e com o aumento do combustível, isso interfere no repasse do preço da comida, devido os fretes estarem mais caros.
Devido também a seca que ocorre no Sul do Brasil, os preços de alimentos e bebidas, subiram em janeiro pelo 18º mês consecutivo, apontam dados do IPCA-15 (Índice Nacional de preços ao Consumidor Amplo 15). Além da sequência de altas, o que causa preocupação é o cenário de riscos que pesa sobre parte da agropecuária neste começo de ano.
Conforme analistas, a estiagem vem castigando lavouras no Sul e ameaça elevar ainda mais os preços de alimentos no Brasil. Novas pressões inflacionárias podem ocorrer nos próximos meses, devido às perdas em cultura como milho, soja, frutas e hortaliças. Também há impactos negativos da escassez de chuvas sobre a produção de leite e carne.
Podemos concluir que todo este cenário de altas e reajustes, terá um impacto negativo em todo o país e muita indústria seja ela de grande porte ou pequeno porte, precisará criar estratégias para sobreviver e manter a sua saúde financeira.
Fontes: O Globo / Agência Brasil / Banco Central do Brasil / BBC News/ Folha de São Paulo.
Imagens Divulgação: Wikipedia/ Banco Central do Brasil/O Globo